Procedimentos de criação de paisagens íntimas

Neste momento histórico que estamos atravessando, direcionei minha produção artística para as questões que busco refletir sobre minha infância. Sou paraibano, cheguei do interior para morar em João Pessoa aos 6 anos de idade. A pandemia do novo coronavírus me trouxe para cá, na mesma rua em que morei minha infância e juventude. Estar presente nesse lugar de afeto, desencadeou vários processos artísticos, deles escolhi mostrar as estratégias que tenho criado para lidar com a paisagem de minha infância. Estou realizando vários mapeamentos partindo da presença de meu corpo nessa paisagem específica, a praia de Tambaú. Meu procedimento é realizar caminhadas pela extensão de praia que compreende o bairro de Tambaú. Procuro por brinquedos esquecidos e antes de coletá-los, os fotografo ainda camuflados pelas areias. Fico pensando na analogia entre os brinquedos deixados na praia e as várias formas de negligência na infância, principalmente o abandono. Também registro as intervenções realizadas na praia, resultados de brincadeiras ou interações entre as famílias e frequentadores. Sejam castelos, piscinas ou outras edificações de areia. Me interesso por essas ruínas das brincadeiras infantis. Nesses procedimentos, meu corpo faz parte do processo, mas está ausente nas fotografias. Tento resgatar o imaginário de meu corpo de criança, que tantas vezes frequentou as areias de Tambaú. Paralelamente, faço uma cartografia de meu próprio corpo neste contexto de imersão na cidade em que por mais tempo morei. Investigo que corpo é esse que tangencia minhas memórias, mas que está ali presente. Por fim, vale salientar que minha prática artística é produzida sob um viés autobiográfico e que essa abordagem é essencial para o processo. Parto de meu próprio corpo, almejando encontrar outras vivências e histórias de vida análogas.